Eu li: Razão e Sentimento

"Conheça sua própria felicidade."

Li este livro pela primeira vez em 2009. Tinha acabado de ler Orgulho e preconceito e me apaixonei pela Jane Austen de uma maneira que foi impossível não procurar suas outras obras. Como a autora é a minha favorita sem dúvida nenhuma, tenho uma pequena coleção de suas obras. Mas desse livro, só tinha uma de bolso, da Martin Claret. Então, você consegue entender porque estava à procura de uma edição digna de Jane Austen, certo?

Então, quando encontrei essa edição linda, ilustrada, capa dura e em promoção, não pude resistir. E, com ela em destaque na minha estante, não demorou nada para eu querer reler a obra. Dei início, então, a um projeto pessoal: ler Jane Austen em ordem cronológica. E adivinha qual foi a primeira obra publicada?

Este livro foi publicado, pela primeira vez, em 1811 e conta a história de duas irmãs, Elinor e Marianne Dashwood. Com a morte do pai, as srtas. Dashwood, a mãe delas e sua irmã mais nova, Margaret, se veem na dependência da bondade do meio-irmão, John Dashwood, fruto do primeiro casamento do pai. Na época, toda a herança era deixada para o filho homem. 

Porém, apesar da promessa feita ao pai em seu leito de morte, John se deixa levar pelas influências da esposa Fanny. Ela veio de uma família muito rica, os Ferrars, era esnobe e arrogante, e não podia admitir que John desse qualquer ajuda às irmãs e à madrasta.

"Desejo, como todos os mortais, ser perfeitamente feliz; mas, como todos os mortais, quero ser feliz à minha maneira."

Página 120

Após a morte do sr. Dashwood, a casa em Norland, onde a esposa e as filhas moravam, passou a ser de John e sua esposa, que logo quis tomar posse e se mudar para a casa que lhe pertencia por direito. Porém, "bondosamente" permitiu que a família do marido morasse por um tempo com eles.

Durante esse período, Edward Ferrars, irmão mais velho de Fanny, passou a frequentar Norland e a dispensar muita atenção a Elinor, a mais velha das Dashwood. Vendo isso, Fanny toma algumas providências.

Então, depois de terem que conviver sob o mesmo teto, em Norland, a sra. Dashwood recebe um convite de um primo distante, Sir John. Um chalé está disponível para alugar e o preço é bastante razoável. Logo após ler a carta com o convite, fica decidido que devem se mudar imediatamente. E assim começa a se desenrolar a história.

Quem conhece a escrita da autora, sabe que é deliciosa. Isso já pode-se notar em seu primeiro livro publicado. É uma escrita delicada, que mostra ser de uma mulher, mas também é muito forte, com opiniões bem definidas.

Jane Austen é conhecida por escrever críticas à sociedade em que vivia. Razão e Sentimento não foge a regra. Mostra quão injusta a sociedade pode ser, quão preconceituosas as pessoas são e o papel da mulher no século XVIII.

Por se tratar de um livro escrito há mais de 200 anos, muita coisa que eram comum na época, hoje soa um pouco estranha. Porém, o que mais me incomodou é spoiler e não poderei falar sobre isso aqui. Posso dizer que, não sei se era comum na época ou se foi coisa da Jane, fiquei muito incomodada, do mesmo jeito que fiquei com o final de Mansfield Park.

"O dinheiro só pode trazer felicidade onde não houver mais nada que possa trazê-la. Além do necessário, não pode proporcionar satisfação real em si mesmo."

Página 120

Essa foi a parte mais interessante de reler um livro cinco anos depois da primeira leitura. Coisas que não tinha nem notado na primeira vez, agora me deixaram desconfortável. Achei que a Marianne teve atitudes de muito "mimimi", agiu de maneira que, era óbvio, ia acabar do jeito que acabou. Elinor, que deveria ser a razão, não atuou conforme o adjetivo supunha, em alguns momentos.

Personagens como Lucy Steele, uma senhorita que as Dashwood conhecem em Devonshire; Fanny e a sra. Ferrars, foram escritas para se mostrarem insuportáveis. E realmente o são. A sra. Jennings, sogra de Sir John, que à primeira vista era insolente, foi uma personagem que se destacou de forma positiva para mim.

O pior momento da leitura foi o final. O livro tem quase 500 páginas de história e esta foi bem desenvolvida. Até os quatro últimos capítulos. O final foi muito corrido, com informações espremidas entre as páginas, os fatos ficaram atropelados e muita coisa ficou superficial.

Amo Jane Austen. Não tenho dúvida nenhuma quanto a isso. Mas fico muito feliz de não ter começado a ler suas obras com "Razão e Sentimento". Por ser seu primeiro livro, tem essas falhas. Porém, apesar disso, o enredo é muito bom. É interessante e, antes do final, bem desenvolvido.

Quanto a edição, encontrei alguns erros de revisão. A tradução do Ivo Barroso me incomodou bastante. Durante a leitura, em um certo momento, encontrei "mana" em uma frase dita pela Elinor. Fui ao original e não tinha nada relacionado à palavra! Não tinha "sister" ou "sis". O livro foi escrito no século XVIII. Por isso achei muito estranho ter uma palavra como essa na narrativa. Em outro momento, ao se dirigir ao John, também aparece "mano". O tradutor podia, tranquilamente, ter traduzido "brother" como "irmão". Gostaria de saber o que passou na cabeça dele ao escolher essas palavras. Tirando isso, a edição ilustrada da Nova Fronteira, de 2011, está impecável.

Como devem ter percebido, não recomendo para primeira leitura da Jane Austen. Mas, depois que já está fisgado pela sua escrita maravilhosa, pode se jogar neste livro. Não vai se arrepender. Pode não ser o melhor, mas ainda assim é um clássico e tanto!

"Não, quanto mais permaneciam juntos tanto mais duvidosa lhe parecia a natureza de seu empenho; e, às vezes, por uns breves e penosos momentos, chegava a acreditar que tudo não passava de uma bela amizade."

Página 33

Nome do livro: Razão e Sentimento
Autora: Jane Austen
Editora: Nova Fronteira
Número de páginas: 493
Onde encontrar: Saraiva - Submarino - Livrarias Curitiba - Livraria da Travessa - Livraria Cultura
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Classificação:

"Quanto mais conheço o mundo, mais me convenço de que nunca encontrarei um homem a quem possa realmente amar. Sou tão exigente!"

Página 27